Atualmente o Conceito de Luxo trascende o valor material, incorporando valores como exclusividade, personalizaçao, sustentabilidade e principalmente a "Experiencia"

Artigo escrito pelo Arquitecto Telmo Rodrigues

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O conceito de beleza aplicada à arquitetura de luxo está a atravessar uma transformação profunda impulsionada pela realidade virtual (RV), inteligência artificial (IA) e mesmo os tokens não fungíveis (NFTs).
Para ilustrar esta situação recorro muitas vezes a um episódio ocurrido recentemente no nosso atelier, em que um cliente reuniu um conjunto de 110 imagens de “projectos” de arquitectura que havia recolhido online e que serviriam de “inspiração” para um novo projecto....... Destas, 109 eram de “casas” virtuais e em muitos casos elaboradas apenas com o uso de inteligência artificial, nada exequíveis mas esteticamente interessantes.
Se numa primeira fase o cliente/promotor é contaminado com esta situação, nós arquitectos, sofremos igualmente na divulgação dos nossos projectos reais e que não são tão “polidinhos” na sua imagem final.
Estes meios estão redefinindo não apenas a forma como projetamos e construímos espaços, mas também como os apresentamos e comercializamos.
No entanto, essa evolução não está isenta de problemas, pois a imagem divulgada da arquitetura muitas vezes é pouco ou nada real, condicionando a perceção do cliente promotor. Se numa primeira fase a integração da realidade virtual na arquitetura permitiu aos clientes explorar projetos antes mesmo de serem construídos e permitiu aos promotores e clientes tomarem decisões mais informadas, hoje são por vezes o produto final na compreensão imersiva ao projeto.
No entanto a representação virtual difere significativamente da experiência física real.
Noutro campo, os algoritmos de IA quando utilizados para análise de dados, modelagem paramétrica e otimização de design, permitem uma abordagem mais eficiente na criação de espaços. Além disso, sistemas de algoritmos de IA incorporam tendências de design e preferências do publico consumidor da imagem arquitetónica.
No entanto, há problemas de autenticidade e originalidade, com o risco de que os projetos se apresentem homogeneizados pela influência desses mesmos algoritmos de pesquisa.
A arquitectura ligada aos NFTs emergiram como uma nova forma de valorizar e comercializar uma arquitetura de luxo Virtual.
Esses tokens únicos e digitalmente autenticados permitem “possuir” uma propriedade digital exclusiva dos projetos...... mas num mundo virtual.
Isso cria uma nova dimensão de exclusividade e colecionabilidade, onde os clientes podem possuir não apenas um imóvel, mas também a sua identidade digital.
No entanto, a especulação e a volatilidade associadas aos NFTs levantam questões sobre a estabilidade e sustentabilidade desse mercado emergente.
Apesar dos benefícios proporcionados pela realidade virtual e inteligência artificial na arquitetura de luxo, é crucial reconhecer os desafios e limitações associados a essas tecnologias.
A representação virtual distorce a realidade, criando expectativas irrealistas nos clientes. Além disso, a dependência excessiva de algoritmos de IA pode comprometer a criatividade e a individualidade dos projetos.
Em última análise, enquanto as redes sociais, bancos de imagens, realidade virtual e inteligência artificial continuam a moldar a imagem da arquitetura de luxo, é essencial encontrar um equilíbrio entre inovação tecnológica e autenticidade arquitetónica.
Os arquitetos devem abraçar essas ferramentas como complementos ao seu processo criativo, garantindo que a integridade e a qualidade do design não sejam comprometidas.
Ao mesmo tempo, os clientes promotores devem estar cientes das limitações e armadilhas dessas tecnologias, mantendo uma visão crítica e realista ao avaliar projetos e investimentos no setor da arquitetura de luxo.

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Anteprojectos, Março 2024